Muita vez tem a arquitectura sido comparada à música. Dizem-na, com certa razão, música petrificada ou congelada. Há uma imagem porém que a mim se afigura não menos expressiva e que me dá ao mesmo tempo a impressão quasi dolorosa do eterno anseio que mortifica o artista-arquitecto, - é aquela esplêndida figura de Vitória, conhecida pela Vitória de Samotrácia, cujas asas mutiladas a inibem de levantar o vôo para que fôra criada. A arquitectura é música eternamente presa à matéria, que não pode, como sua irmã a arquitectura dos sons - desligar-se da terra e seguir o vôo do pensamento que lhe insuflou a vida (...).
Raúl Lino