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Das celas vizinhas

“Das celas vizinhas, sobretudo durante a madrugada, eu ouvia os gemidos daqueles que voltavam do porão do quartel que o regime político transformara em prisão. Não eram gritos, eram gemidos mesmo, que duravam horas. Mesmo assim, em certas noites, apesar de distantes, eu ouvia os gritos – e ainda que viva cem, mil anos, jamais me esquecerei deles. Daí que nada precisei ouvir para jamais esquecer o que agora estava vendo, ali no chão da cela que até então ocupara sozinho. Eu via o resultado de muitos gritos acumulados num corpo que nem parecia corpo e que, tombado no chão, mais parecia uma carniça”

Carlos Heitor Cony

In: Romance sem Palavras, São Paulo: Editora Schwarcz, 1999, pp. 11 – 12


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