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Das celas vizinhas

“Das celas vizinhas, sobretudo durante a madrugada, eu ouvia os gemidos daqueles que voltavam do porão do quartel que o regime político transformara em prisão. Não eram gritos, eram gemidos mesmo, que duravam horas. Mesmo assim, em certas noites, apesar de distantes, eu ouvia os gritos – e ainda que viva cem, mil anos, jamais me esquecerei deles. Daí que nada precisei ouvir para jamais esquecer o que agora estava vendo, ali no chão da cela que até então ocupara sozinho. Eu via o resultado de muitos gritos acumulados num corpo que nem parecia corpo e que, tombado no chão, mais parecia uma carniça”

Carlos Heitor Cony

In: Romance sem Palavras, São Paulo: Editora Schwarcz, 1999, pp. 11 – 12


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Lire, c’est penser avec d’autres dans leurs textes, pour autant que leurs textes ne se referment pas sur eux-mêmes […] mais conduisent le lecteur à basculer dans un autre champ de réflexion, c’est-à-dire à poursuivre son questionnement dans un autre texte. Bruno Karsenti,  D’une philosophie à l’autre  :  Les sciences sociales et la politique des modernes , 2013